quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

26/10/2013 - Georgetown - Passeios pela cidade

Dia reservado para city tour. Logo no café da manhã conheci o Vagno, brasileiro que está na Guiana à trabalho. Ele, já cansado da comida local, queria fazer um almoço com comida caseira brasileira.
 Voltamos à pousada e, enquanto o Vagno preparava o almoço, liguei para várias agências de turismo. Gostaria de visitar  a cachoeira no Domingo e seguir viagem na segunda. Nenhuma agência confirmou. Consegui lugar para segunda feira mas ficar mais um dia em Georgetown estava fora de questão. Desisti do passeio e economizei 200 doláres. Desci para almoçar com o Vagno. A comida ficou ótima, um belo almoço e ainda um novo amigo. Depois do almoço saí para caminhar pela cidade e conhecer seus pontos de interesse. Visitei a catedral Anglicana de St. George. Passei pela prefeitura que está em mal estado de conservação e visitei o mercado municipal.

Com certeza há mais para ser visto em Georgetown, mas não dispunha de muito tempo, então visitei o que mais me chamou atenção nos guias. Tomei um sorvete e voltei para a pousada para organizar minha bagagem e me preparar para a etapa mais ‘’aventura’’ da viagem. Saí com a moto para abastecer e comprar comida para levar no dia seguinte. No posto de gasolina conheci o Clyde, motociclista também. Ele é surinamês e como tal fala um bom inglês. Conversamos um pouco, contei que estava indo para Linden e depois para Lethen e ele, por coincidência, iria para um festival do peixe numa cidade chamada Rockstone que fica 30km após Linden. Combinamos de viajar juntos no dia seguinte. De volta à pousada jantei com o Vagno, conversamos bastante, conheci sua família, que mora em Brasília, através da internet e me recolhi.

25/10/2013 - Nieuw Nickerie - Georgetown

Acordei 6:00, arrumei a bagagem na moto e o cozinheiro do hotel me preparou um café e dois sanduiches. Comi um e ele fez questão que eu levasse o outro. Segui para a fronteira, que é marcada pelo Rio Corentyne, cheguei na imigração e era o terceiro da fila dos carros. Foram chegando muitas lotações trazendo pessoas de Paramaribo, na maioria brasileiros que atravessam a fronteira para logo em seguida voltar ao Suriname e carimbar o passaporte com um visto de mais 90 dias de permanência no país. Quando a imigração abriu foi uma debandada de gente. Eu ainda tive que estacionar a moto e fui para a fila comprar a passagem. Processo manual e demorado, passagem na mão fiz a saída da moto na Aduana e depois a imigração. Liberado para o embarque segui para a balsa. Cruzamos o rio e chegando do outro lado, o pessoal já se aglomerou na saída da balsa. Mal baixou a rampa, nova debandada. Fiquei por último na fila.



Falei com outros motoristas e todos tinham comprado seguro para a Guiana em Paramaribo, eu não. O resultado foi correria e perda de tempo. Deixei a moto no estacionamento da fronteira e tomei um táxi para comprar o seguro em Corriverton, só que a cidade fica longe e levamos quase 30 minutos para chegar ao escritório da seguradora. O processo foi todo manual e eu e o taxista agoniados para voltar à Aduana antes que os agentes saíssem para o almoço. Enquanto aguardava a papelada, a vigilante do escritório disse que me amava e queria casar comigo. Será que sairei solteiro dessa viagem? Não percam os próximos capítulos! Tudo pronto, saímos em ritmo acelerado para a fronteira, não entendia quase nada do que o taxista falava e perguntei se ele tinha certeza se ali se falava inglês, ele sorriu e disse “Sim inglês .” Voltamos à Aduana e os agentes não estavam mais lá. Esperei mais de uma hora, lembrei do sanduíche na mochila e ele foi meu almoço. Logo que os agentes chegaram liberaram a moto sem maiores burocracias, estando com o seguro em mãos tudo vai bem. Ainda tive que aguardar a chegada dos funcionários da balsa para dar a entrada da moto num livro preto. Da fronteira até Georgetown são apenas 190 Km. O que você não sabe é que a velocidade média neste trecho é de 50Km/h.


Depois de toda essa epopeia cheguei a Georgetown na hora do rush, quando o comércio está fechando.
Minha primeira opção de hospedagem estava lotada e segui para outro hotel da mesma rede, uma pousada. Me instalei e comecei a ligar para as agências de turismo em busca do passeio à Kaieteur Falls, cachoeira com 226 metros de queda, classificada como uma das mais belas do mundo. Somente uma agência atendeu, no momento sem vagas. Deixei meu contato e o interesse de fazer o passeio no Domingo.


24/10/2013 - Paramaribo - Nieuw Nickerie

Dia tranquilo com o objetivo de rodar até Nieuw Nickerie, na fronteira com a Guiana. Acordei não muito cedo, culpa das Cubas Libres...
Enquanto arrumava a bagagem na moto conheci mais duas turistas europeias, uma delas também anda de moto e ficou impressionada por eu estar viajando com uma moto tão pequena, ela pilota uma BWM GS, um clássico das motos de aventura.
A jaqueta com o novo puxador extraído do zíper comprado no dia anterior funcionou a contento, obrigado ao cara do armarinho e a minha mãe que me ensinou a costurar!
 Saí da pousada já no calor da manhã. Abasteci na saída da cidade e calibrei os pneus. A frentista pediu para ir comigo, falei que já havia casado com outra surinamesa (risos), lamentamos não haver espaço na moto e segui viagem. Estrada movimentada nos primeiros 30 Km, depois só fazendas de gado e arrozais.


Cheguei a Nieuw Nickerie no início da tarde, mas a maioria do comércio já estava fechado, pouco antes da cidade peguei uma chuva torrencial, mas dessa vez estava com a capa de chuva, o que aumentou o impacto da minha entrada no hotel. Imaginem um grande salão de restaurante, a recepção do hotel ao fundo, abri a porta, um ser negro com uma enorme cabeça branca que deixa atrás de si um rastro de água suja, um cidadão que já havia tomado algumas levantou-se e espantado fez reverências. Depois de um tempo que me pareceu muito longo pela pouca distância percorrida, cheguei ao balcão da recepção do hotel, pedi desculpas por ter alagado o salão e requisitei um quarto. O quarto era amplo e consegui organizar todas as coisas molhadas. Voltei ao salão para ver se havia algo para comer e descobri que tratava-se do melhor restaurante da cidade. Me pareceu que muitas pessoas que estão a trabalho na cidade almoçam por ali. Como sugestão da garçonete comi arroz frito com frango, muito bom. Alguma pimenta, mas segundo a garçonete era o prato mais suave. Sem nada urgente para fazer, sai para caminhar pela cidade quase deserta.

Voltei ao hotel, jantei sopa e me recolhi, o dia seguinte era dia de fronteira.

23/10/2013 - Paramaribo - Dia de andar pela cidade

Acordei a tempo de tomar café na pousada e saí para conhecer os pontos turísticos de Paramaribo. Alguns: Cadetral, Mercado Central, Fort Zeeland, A Mesquita e claro, uma paradinha para uma  Parbo, a cerveja local.

Aproveitei o passeio pela cidade para procurar um zíper novo para a jaqueta, perguntando aqui e ali encontrei um armarinho. O atendente se desdobrou para entender o que eu tinha em mente, comprar um zíper para usar somente o puxador. Ao final tinha meu zíper. Gostei das pessoas aqui, sempre solícitas. Voltei à pousada para um banho de piscina e relaxar um pouco os músculos deste franzino corpo. Gosto das pousadas e albergues porque propiciam encontros. Me enturmei e saí jantar em companhia da Annemieke e da Yvonne, duas turistas holandesas que estavam hospedadas no mesmo lugar que eu. Fomos ao restaurante Jiji's. Com vista para o Rio Suriname, é um lugar agradável com pratos cheios de personalidade. Voltamos para a pousada e ainda tomamos algumas cubas libres à beira da piscina antes de dormir.

22/10/2013 - St Laurent du Maroni - Paramaribo

Sai do chalé para tomar o café da manhã e para minha surpresa o lugar estava lotado de redes, nem vi a hora que esse povo todo chegou, encheram os dois redários disponíveis.
Segui para o porto/fronteira. Eu já sabia que a balsa estava quebrada e teria que atravessar numa canoa. A negociação foi difícil, os donos de canoas estavam aproveitando a situação. Havia duas canoas por lá e cheguei a um preço razoável com um deles. Fiz a saída do país, apresentei os documentos da moto e o policial perguntou: “Aonde está o seguro?”. Entreguei o papel que o corretor havia me dado, o policial olhou, leu e disse:”Ok”. Perfeito! Embarcamos a moto e dez minutos depois estávamos no Suriname.

Do outro lado do Rio Maroni, na cidade de Albina, também existe um complexo fronteiriço com imigração e aduana integrados.  Assim como na Guiana Francesa, aqui também é necessário o seguro. Carimbei o passaporte  e, munido de todos os documentos, peguei um táxi para ir ao banco comprar o seguro. Na verdade não foi bem um taxi, uma mulher que trabalha no local me levou no seu carro. O processo foi um pouco demorado, primeiro enfrentamos uma fila e depois o sistema caiu, mas deu certo no final. Minha chofer ainda disse que sou muito bonito e que ela seria minha esposa no Suriname! Espero que no meio da papelada não tenha um contrato nupcial... Voltamos à fronteira, internei a moto e peguei o comprovante que dá direito a transitar no país. Segui direto para Paramaribo, pilotando em mão inglesa. Acredito que de moto é um pouco mais fácil de assimilar. A estrada entre Albina  e Paramaribo está quase toda recuperada.

Falta apenas uma ponte em Moengo e há um desvio de uns 6 km de terra. Cheguei à Paramaribo depois do meio dia, trânsito pesado, mas os motoristas relativamente cuidadosos. Primeira missão, almoçar! Parei na Beira Rio ou Waterkant, onde há uma série de bares e lanchonetes e comi um peixe com batatas fritas. Aproveitei para olhar o mapa e me localizar. Segui para uma das pousadas bacanas do guia, lotada. Encontrei a pousada Albergo Alberga por acaso e logo me instalei. A pousada fica no Centro Histórico e o centro histórico de Paramaribo é pequeno e facilmente percorrido a pé, saí logo para uma caminhada de reconhecimento


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

21/10/2013 - Segunda-Feira - Cayenne - Kourou - St Laurent du Maroní

Dia de visitar o centro espacial de Kourou. Cheguei bem cedo, antes dos atendentes. Começou a chegar muita gente, na hora de entrar fui para a lista de espera, pois não havia reservado. Na verdade mandei um e-mail reservando na sexta à tarde, mas eles não trabalham sexta a tarde. No final deu tudo certo e pude entrar no grupo. É uma visitação longa, há três plataformas de lançamento, Soyuz, Ariane e Vega.
São distantes entre si e visitamos todas. As explicações foram todas em francês, entendi muita coisa pois havia muitos diagramas e vídeos demonstrativos. Acabou por volta de 11h30min. Arrumei minhas coisas para partir e o zíper da jaqueta quebrou. Algo a ser resolvido mais tarde. Meu próximo destino era o Campo de Transporte, em St Laurent du Maroní, fronteira com o Suriname. Cheguei à cidade, hotéis lotados, segui para o centro de atendimento ao turista. Fui muito bem atendido, providenciaram um lugar para dormir em rede e ainda entrei numa visita ao Campo. Era aniversário da minha mãe e fiz um Brasil Direto para dar os parabéns à ela.


A visita ao Campo de Transporte começou com uma preleção sob uma frondosa árvore, foi toda narrada em francês, uma palestra interminável e nada de visitar as ruínas e prédios. Saí à francesa, pois não estava entendendo muita coisa.

 Fui procurar o lugar onde eu tinha reserva para passar a noite, não encontrei, mas achei uma placa indicando outro lugar que já conhecia do guia, Pousada Agami. Fui até lá, a dona estava tomando banho e nossa comunicação, truncada, foi pela janela entreaberta. Acabou que ela me indicou um local um pouco mais à frente. Segui até o Palambala - Hamac & Insectes e, como ainda não havia ninguém em rede , me instalei num chalé. Fiz a manutenção no zíper da jaqueta com Durepox, tomei banho e fui jantar na pousada Agami, famosa pela comida crioula. Os donos são um casal muito simpático e fazem tudo para agradar. O menu é fixo com entrada principal e sobremesa. A Sra. Carmem até incluiu uma Heinekein no valor do menu. Depois de um delicioso peixe assado na folha de bananeira voltei para a pousada. Já havia um casal no redário. 
 


20/10/2013 - Domingo - Ilhas da Salvação - Îles du Salut

Domingão, um ótimo dia pra visitar as Ilhas da Salvação. Fui até a cidade de Kourou, ponto de partida dos barcos que fazem a travessia para as ilhas. Kourou fica a apenas 60 km de Cayenne, mas como não conhecia o caminho saí bem cedo, cheguei ao porto antes do pessoal da empresa do barco. Logo eles chegaram e mesmo sem reserva consegui um lugar no Catamarã La Hulotte.


O barco atracou na Ilha Royale, a maior das três, esta ilha dispõe de um restaurante e alojamentos, também é possível acampar na ilha. Saí para caminhar pelas trilhas, mesmo sendo a maior ilha, é possível caminhar por tudo em cerca de uma hora. Fiz uma pequena trilha e subi para o restaurante que fica no topo da ilha, tomei o café da manhã e guardei um sanduiche para o almoço. Caminhei pelas construções da ilha e depois fui para o único ponto onde é possível banhar-se.



Em volta da ilha havia muitos barcos de pesca e Alguns com muita sorte, como este que pescou um enorme mero:
             Particularmente prefiro os meros vivos para que eu possa mergulhar com eles. Depois do banho de mar voltei para o porto da ilha, pois o Catamarã nos levaria para outra ilha menor, Ile Saint Joseph. Demos uma volta na ilha e desembarcamos, ilha bem pequena com algumas ruinas e uma praia que só existe na maré cheia. Relaxei na praia, almocei o sanduba que havia guardado na mochila e voltei para o pequeno porto flutuante da ilha a tempo de um delicioso banho de mar antes que o catamarã voltasse para nos apanhar.
                 Voltei para Cayenne e fui jantar num restaurante antigo e tradicional, o Les Palmistes, na Praça Les Palmistes. Por algum motivo a garçonete não quis falar português comigo, já que com a mesa ao lado ela deixou escapar a língua pátria. Percebi esta situação algumas vezes em Cayenne, em público, os brasileiros nãos dão prosa a um brasileiro branquelo com cara de gringo como eu.

19/10/2013 - Sábado -Cayenne

Para este dia eu programei a visita ao mercado municipal e à tarde, praia. Foi o que fiz. Antes do mercado caminhei até o antigo porto, passei pelo mercado de peixes, que são os mesmos peixes que temos no Norte, mas com nomes diferentes. No mercado o colorido de sempre, temperos, frutas, muita sopa, parece que a Pho vai bem de café da manhã também. Havia artesanato e as garrafadas. Deixei o mercado e fui para o museu departamental. Funciona num antigo prédio de madeira e tem vários espécimes da fauna da Guiana Francesa empalhados. O que mais me agradou foi a seção de etimologia, um prédio anexo, climatizado com uma bela coleção de borboletas, mosquitos, besouros, aranhas e outros insetos. Vale a visita! Nos andares superiores alguns objetos de cerâmica indígena e a história das Ilhas da Salvação. Almocei no restaurante brasileiro Alegria, segui para a praia em Montjoly. Estrada bonita com muitas propriedades de veraneio. Parei onde havia mais pessoas e banhei no Atlântico marrom da Guiana. A noite fui jantar em uma das muitas barracas de comida da Praça Les Palmistes. Parei numa barraca de brasileiros e mandei ver um X-egg. Neste final de semana havia um concurso de dança e um evento contra o câncer de mama. Praça movimentada, bom pra ver gente. Algumas fotos do dia:

18/10/2013 - Sexta-Feira - Oiapoque – Cayenne

Hoje é o dia da balsa e da primeira travessia de fronteira. Acordei cedo, tomei café e fui para o porto Lunay às 07:45h conforme o pessoal da balsa solicitou. Cheguei ao porto, o portão estava fechado. Fiz hora conversando com um pescador e ele me contou que os barcos descem o rio e vão pescar em alto mar. Muitas histórias de perigos e aventuras. Às 08:00h chegou o gerente do porto. Entrei. A balsa já estava atracada. Pareceu ser um porto de areia. Dessa forma eu tinha que passar pela areia para chegar na balsa. A rampa da balsa estava muito inclinada e alguém sugeriu colocar uma prancha de madeira. Pronto, agora era areia, uma prancha de madeira, a rampa da balsa, tudo molhado pela chuvinha que caiu mais cedo. Diante de seis pares de olhos mirei o convés da balsa e acelerei. Pronto embarcado! A travessia do rio Oiapoque foi muito tranquila, apenas eu, a moto, e a tripulação.
 Durante a travessia o documento da moto fica com o comandante. A equipe da balsa se encarrega do despacho na Aduana Francesa. Conversei com um membro da tripulação que me contou que muitos brasileiros passam ilegalmente para a Guiana Francesa através dos rios da região para trabalhar no garimpo, muitos são descobertos e deportados. Chegando à margem Francesa a balsa atracou numa rampa de concreto tornando o processo de desembarque uma moleza. Fui até a Aduana com o despachante da balsa. O funcionário registrou a entrada da moto no livro e liberou, sem burocracia. Ainda me passou o contato de um corretor de seguros em Cayenne. Para todos os países visitados é necessário fazer um seguro contra terceiros. Da Aduana segui para o PAF, policia de fronteira, para carimbar a entrada no passaporte. Segui viagem. Nos primeiros quilômetros a estrada está sendo recuperada. No mais, estrada boa, com muitas serras e curvas. Saí da estrada que vai a Cayenne em direção a Cacao. São 12 Km numa serra muito bonita. Chegando ao vilarejo visitei a Igreja de Nossa Senhora da Paz e tomei a tradicional sopa vietnamita, chamada Pho.

Depois do almoço segui para Cayenne, já próximo à cidade subestimei o poder das chuvas tropicais. Não coloquei a capa de chuva achando tratar-se de uma chuva passageira, até que foi rápido , mas caiu muita água. Muito molhado cheguei a Cayenne. Entrei na cidade, me localizei e segui para um dos hotéis baratos do guia, o Ket Tai, fica perto do cemitério e em frente ao corpo de bombeiros. O pessoal do cemitério não me incomodou, mas acordei várias vezes sobressaltado com as sirenes dos bombeiros, até que resolvi dormir com a janela fechada e usar o ar condicionado. Aí quase tive uma hipotermia! Voltando ao hotel, simples, e impessoal. À tarde trabalhavam duas brasileiras, uma delas ao menos me indicou um bom restaurante perto do hotel, restaurante Alegria, buffet por quilo de comida brasileira, propriedade de uma brasileira.

Deixei as coisas no hotel, estendi a roupa molhada na pequena varanda do quarto e saí pela cidade em busca do seguro. Parei na primeira seguradora, eu precisava de um seguro para quatro dias, a atendente tinha para três dias, trezentos e tantos euros, ou para 30 dias seiscentos e tantos euros. Ela mesma achou que não fazia sentido gastar tanto dinheiro somente para cruzar o país, mostrei a ela o papel com o nome do contato informado pelo pessoal da Aduana, a moça me indicou o caminho e eu segui pra lá. Parei num posto de gasolina para saber se estava no caminho certo, o frentista chamou o gerente e ele foi super prestativo, falava inglês, ligou para o contato, conversou e ao final ele disse: “O corretor falou que não tem como fazer um seguro para quatro dias, mas acho melhor você ir lá pessoalmente”. Ele me passou os detalhes de como chegar ao escritório do corretor. Chegando lá encontrei o corretor que também achou que não fazia sentido fazer um seguro de 30 dias para usar 4. Argumentei que precisava de algum papel ou documento para mostrar para a polícia, ele então pegou um panfleto do escritório, escreveu duas linhas em francês no verso, assinou e entregou em minhas mãos e disse: “Se pedirem o seguro entregue isso para a polícia”. Eu perguntei: “O que está escrito?”,  ao que ele apertou os olhos e repetiu: “Mostre isso para a polícia”. Não discuti, dobrei o papel, agradeci e voltei tranquilizado por ter algum papel para mostrar para os homens da lei. Aproveitei para, na volta ao hotel,  conhecer alguns pontos de interesse na cidade e parei para jantar no Le Bistrô, lugar badalado, sempre cheio, meio bar, meio restaurante, meio balada. 
Place Des Palmistes - Ponto central da vida social em Cayenne

17/10/2013 – Quinta-Feira - Calçoene - Oiapoque

Meu plano de passar uma noite em Calçoene tinha uma razão, conhecer o Parque Arqueológico do Solstício, a Stonehenge Brasileira! Acordei cedo, arrumei as tralhas e, seguindo algumas indicações, errando e voltando, encontrei o lugar. Por que não colocam placas? Este lugar está descrito em todos os guias do Amapá, mas não tem uma placa indicando o caminho.

      
Chegando lá encontrei o seu Garrafinha, o guarda-parque cuja história se mistura com a do sítio arqueológico. Ele vive lá com a companheira, Dona Nilza. Cuida sozinho de tudo, mantém o roçado, conserta cerca, explica tudo o que os arqueólogos já descobriram e o que ainda é mistério, ele mesmo é o maior estudioso das pedras, passou anos analisando o movimento do sol em relação à elas. Também é poeta. O homem é uma lenda viva! Muito lindo e acolhedor o lugar, valeu a visita.

Deixei o sítio arqueológico e voltei à Calçoene, completei o tanque da moto, coloquei alguma gasolina no galão reserva e um lanche na bagagem, tracei meu rumo ao Oiapoque. Esse trecho de 220km tem 110km que ainda são de terra. Os primeiros 40km são de médio a ruim, com buracos, depois fica um estradão de chão, muito bom de rodar. O único perigo são as camionetes que fazem esse trecho e andam muito rápido.


















Cheguei novamente no asfalto, último trecho, 50km até o Oiapoque, fiquei emocionado, coisa besta esta chegar nos pontos extremos do País, mas de alguma forma é uma conquista, a realização de um desejo que eu alimentava há anos.













Estive aí, no Oiapoque! 

Uma das fronteiras Brasileiras mais remotas que um  veículo pode chegar!
Pensava em seguir no mesmo dia para a Guiana, mas a balsa só tinha viagem para a manhã do dia seguinte. isso foi bom, tive tempo de visitar o Kuahí , Museu dos Povos Indígenas do Oiapoque, que tem em seu acervo algumas peças retiradas do sítio arqueológico de Calçoene que eu havia visitado pela manhã.


16/10/2013 – Quarta-Feira - Macapá - Curiaú - Calçoene

Depois de 10 horas de sono acordei renovado. Tomei café e fui logo trocar o óleo da moto. Obrigação feita, fui visitar alguns pontos turísticos e rever outros durante o dia. Voltei à Fortaleza e uma turma de adolescentes veio falar comigo. Queriam praticar francês e ficaram um pouco decepcionados ao saber que eu sou brazuca e não falo nada de francês. Conversamos e tiramos algumas fotos.
Turma do curso de francês.


 Por indicação de uma guia do escritório de turismo resolvi almoçar numa APA que já foi quilombo, Curiaú. Ótima dica, lugar tranquilo, fora da cidade. Tem um lago com alguns restaurantes onde se come um peixe frito delicioso. Eu almocei no Bar do Dico.



         






Fui de mala e cuia e de Curiaú mesmo segui rumo norte. Tem poucas cidades no caminho e elas não ficam às margens da rodovia, tem que pegar o acesso. Parei em Ferreira Gomes para abastecer e segui para Calçoene, última cidade antes do Oiapoque.  Estrada boa, tapetão, muito reflorestamento, mineração e usinas sendo construídas no caminho. Cheguei em Calçoene de noitinha, bem faroeste a cidade. Peguei uma pousadinha. Jantei peixe novamente, muito bom por sinal, e cama.
Até aqui tudo bem! Ótima rodovia.

15/10/2013 – Terça-Feira - Navio - Belém - Macapá

Acordei cedo, como todos no navio. Tomei café e desci para escovar os dentes e usar o banheiro do convés onde estava a moto, adivinhem: Toneladas de açaí trancando a passagem da moto. Isso seria um problema para depois. Dá uma olhada nos cestos de açaí que foram embarcados durante a noite:
Os cestos são chamados de paneiros
         Eu circulo muito no barco, tem gente que fica na rede a viagem toda, eu não aguento. E segue a viagem, conversa daqui, conversa dali, fiquei sabendo que o navio teve problemas de madrugada, que atrasou ainda mais a viagem. Aí o barco para, no meio de um canal estreito, todo mundo achando que é uma nova pane, o comandante manobra o navio e embica na barranca do rio. A cozinheira vai até a frente do barco e pega alguns limões no barranco! O cara manobra toneladas de carga e pessoas para colher limão! Só aqui para ver isso. Não contente ainda manobrou novamente para encostar num pé de açaí. Está aí a prova!
Com todas essas peripécias chegamos a Macapá 13:30h (o planejado seria 10:00h). Lembram do Açaí?

  

   Imaginem que o processo de descarga é manual e não é só descarregar. Tem que tirar
do paneiro e passar para a lata e da lata para o saco. O que já estava no saco foi retirado do saco, passado para o paneiro, do paneiro para a lata e da lata para o saco novamente.












E eu ali, preso e assistindo essa cadeia no mínimo contraproducente. Fiquei esperando, conversei com mais um tanto de gente, ouvi histórias, soube quanto custa o paneiro de açaí, o frete, quanto rende etc. 16:30h liberado para sair, desci a prancha feito uma flecha, alto estilo, cena típica que pode acabar no Faustão. Mas deu tudo certo. Segui meu rumo do porto de Santana para Macapá. A gente chega na cidade exatamente no Marco Zero, já parei e fiz a visita. Tirei foto no hemisfério Norte, Sul, sobre a linha do Equador, segurando o monumento, maior que o monumento, aquilo tudo que turista faz. Agradecimento especial à guia de turismo que trabalha no monumento e tirou as fotos!


Do Marco Zero segui para a Fortaleza de São José, horário bom para fotos, luz dourada. Parecia um caubói espacial, roupa preta, jaqueta, coturno e um chapéu de lona, a galera do futebol até parou de jogar com a aparição desse estranho ser!

         Peguei um hotel na orla, próximo à Fortaleza. Macapá tem uma orla muito bonita, à noite muitas pessoas correm, outras caminham. No forte muita gente pelos gramados, os donos das carrocinhas de refri e sanduíches colocam cadeiras e tapetes no gramado para o povo ficar por ali. Muito bacana! Ainda tinha o pessoal dos patins, das bicicletas e do skate. Jantar japonês e um sorvete de açaí, pronto para cama.

14/10/2013 – Segunda-Feira - Navio - Belém - Macapá

7:00h eu liguei para a agência que vende as passagens para o barco que sairia para Macapá, confirmei um lugar no navio Ana Beatriz. Tomei café e me despedi do Painho e da Naza.


Direto para as docas, pagar e pegar a passagem, dali para o porto de embarque. Se vocês um dia conhecerem o lugar, vou falar, é terrível, pior que na ansiedade de achar o porto de embarque, são vários portos particulares, nem parei para tirar uma foto da bagaceira, também não dá coragem naquela confusão. Pois bem, achei o tal do Porto Líder, falei com o Jaílson que me mandou falar com o Antonio que me liberou para embarcar a moto. Passei pela prancha e entrei no barco com tudo. O Antonio me pediu para colocar a moto na parte de trás do barco, atrás de uns sacos de batata que estavam sedo embarcados.


A moto embarcada no Navio Ana Beatriz. Com esse tanto de carga no convés comecei a desconfiar que teria problemas da hora do desembarque...












Subi com a bagagem para o deck superior, aquele das redes sem ar condicionado, pendurei minha rede longe dos banheiros e do bar. Tudo pronto às 9:00h. O navio saiu depois do meio-dia. Embarcou batata, mamão, ovos. Não parava de aparecer caminhão para transferir a carga. O horário oficial de saída seria 10:00h. 
O carregamento continua. Agora são ovos. Esses portos funcionam sempre no jeito difícil. Nada mecanizado, tudo improvisado no lombo dos carregadores.

Começamos a navegação e as amizades, todo mundo fala com todo mundo, é bacana. Só assim para passar o tempo. Almoço e jantar custam 10 reais no refeitório do Navio, o café da manhã é grátis. No jantar um senhor nos divertiu com piadas de adivinhação, acertei umas duas, aí é que ele disparou. Mas não conhecia as outras então acho que ele ganhou!




Na copa fica uma garrafa de café à disposição. Ótimo para aquele lanchinho da tarde com o bolo que a Naza fez!











Depois do jantar, no meio do rio, começam a aparecer barcos menores completamente carregados de açaí, eles encostam no navio e transferem a carga, eu contei pelo menos 4, mas de madrugada apareceram mais. Foi muito açaí, mas muito mesmo.

A noite esfriou, tive que dormir de meia e com a jaqueta da moto, aí ficou gostoso.